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Última Atualização: 07 Dezembro 2018
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Criado: 29 Novembro 2018
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Terceiro dia da II Semana de Humanidades tematizou os desafios da juventude no respeito às minorias e às diversidades
Com uma temática voltada ao respeito às minorias e às diversidades, teve início, nesta quinta-feira (29), o terceiro dia da II Semana de Humanidades do campus Ouricuri e I Virada Cultural do Centro Nordestino de Medicina Popular. O assunto foi abordado logo pela manhã, na mesa redonda “Aprendendo a respeitar”, em que os discentes do Ensino Médio Integrado, Luiza Modesto, Joncleiton Salviano e Victor Messias, sob a mediação do estudante da Licenciatura em Química, Paulo César, trataram as temáticas da Homofobia, Intolerância Religiosa, Racismo, Feminicídio, entre outras.
A mesa redonda “Aprendendo a respeitar” tratou de temáticas como a Homofobia, a Intolerância Religiosa, o Racismo e o Feminicídio
O estudante Joncleiton Salviano avaliou como positiva a mesa redonda. “Estou muito satisfeito com o resultado. Tivemos um retorno muito bom. Compartilhamos ideias e contamos nossas experiências. E espero que nos próximos anos possamos continuar a discutir o tema”, disse o discente. A tecnóloga em Design Gráfico do campus Ouricuri, Milena Monteiro, também partilhou a satisfação em ter participado da mesa redonda. “O sentimento é de gratidão por ter a oportunidade de ouvir e trocar ideias com alunos e servidores. E é através de ações como essas que as minorias resistem e conquistam seu lugar na sociedade, pois todos possuem este direito”, declarou.
Ainda na manhã desta quinta ocorreu o Minicurso “Ética e moral na política: democracia e regimes totalitários”, ministrado pelo professor de Filosofia da Instituição, Cristiano Dias. Ele trabalhou os conceitos de Ética e de Moral e a sua relação na Política. O docente também explanou sobre as diferentes formas de governo, como democracia, ditaduras e regimes totalitários e conversou sobre nepotismo, teocracia, cleptocracia, entre outros conceitos.
O professor Cristiano Dias ministrou o minicurso “Ética e moral na política: democracia e regimes totalitários”
O turno vespertino foi iniciado com a mesa redonda “Direitos humanos e minorias: no que avançamos e no que precisamos avançar ainda mais?”. O advogado João Gabriel Brito destacou os marcos jurídicos de avanço na luta pela conquista de direitos da população Lésbica, Gay, Bissexual, Transexual e Travesti (LGBTT), como a constituição de 1988 que, em seu artigo 5°, apregoa a igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, a 1ª Conferência Nacional de LGBTT, em 2008, e a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que reconheceu, em 2011, a união homoafetiva.
Também colega de profissão, a advogada Abinéia Miranda apresentou dados alarmantes do genocídio da população LGBTT, que faz o Brasil ocupar a vexatória posição de número um em assassinatos de homossexuais no mundo, por razões homofóbicas. Segundo o levantamento do Grupo Gay da Bahia, foram registrados 445 casos de assassinatos de homossexuais em 2017. Entre 2008 e junho de 2016, 868 travestis e transexuais perderam a vida de forma violenta. “No Brasil, a gente luta todo dia pela liberdade de ser quem somos, de existir e ser feliz”, afirmou Abinéia.
A mesa redonda “Direitos humanos e minorias: no que avançamos e no que precisamos avançar ainda mais?” tematizou os avanços e retrocessos na luta pelo reconhecimento da população LGBTT
O supervisor de Diversidade da prefeitura de Juazeiro-BA, Eduardo Rocha, destacou o decreto presidencial que, em 2016, reconheceu a identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais por meio da adoção do nome social e falou sobre a diferença entre gênero e orientação sexual. Segundo ele, a orientação sexual tem a ver com os relacionamentos afetivos-sexuais com pessoas do mesmo sexo (homossexual), sexo oposto (heterossexual) e ambos (bissexual). Já a identidade de gênero é como a pessoa se sente e se reconhece, se do gênero feminino ou masculino. Citando o seu próprio exemplo, Eduardo disse ter nascido com órgão sexual feminino (vagina/vulva) e com identidade de gênero masculina, fazendo-o ser reconhecido como homem transexual.
“Discutir diversidade é discutir a vida, é discutir cada pessoa que está aqui na sala, porque ainda que você não tenha o marcador social conhece alguém que tem, alguém que é LGBTT. Para se trabalhar o respeito é necessário que a gente discuta todos esses temas”, ressaltou Eduardo. A mesa redonda “Direitos humanos e minorias: no que avançamos e no que precisamos avançar ainda mais?” contou com a mediação da enfermeira do campus Ouricuri, Wyara do Espírito Santo.
Na sequência, foi realizada a mesa redonda “Juventudes e convivência com o semiárido”, com a exposição da professora de Geografia do campus Ouricuri, Christianne Farias, do fotógrafo e agricultor Lídio Parente e do coordenador da ONG Caatinga, Paulo Pedro de Carvalho. A professora Christianne destacou a potencialidade da proposta de convivência com o semiárido, que considera a riqueza de possibilidades de produção, as práticas sustentáveis e o respeito aos saberes populares e à cultura local.
A mesa redonda “Juventudes e convivência com o semiárido” desatacou os desafios da fixação da juventude no meio rural
Na mesma perspectiva, o fotógrafo e agricultor Lídio fez uma mostra fotográfica da utilização de tecnologias e procedimentos apropriados ao contexto ambiental e climático do semiárido brasileiro, a partir da sua experiência na Fazenda Floresta, zona rural de Parnamirim. Foram apresentadas tecnologias sociais de armazenamento da água, como a barragem subterrânea, além de experiências de produção de alimentos e de feno, com base na agroecologia e na agrofloresta.
Comemorando 30 anos de ações para a promoção do fortalecimento da agricultura familiar e para a garantia dos direitos da população do semiárido brasileiro, com base agroecológica e na perspectiva da convivência e da Educação Contextualizada, o Centro de Assessoria e Apoio aos Trabalhadores e Instituições Não-Governamentais Alternativas (CAATINGA) esteve representado pelo seu coordenador Paulo Pedro. Segundo ele, a juventude tem uma importância especial no semiárido brasileiro, devido à necessidade da sucessão rural, já que a agricultura familiar é responsável por colocar o alimento na mesa do povo.
“Isso o que vocês estão fazendo no Instituto Federal, ao promover esse tipo de discussão e incentivar a educação contextualizada, é a esperança nossa no futuro de criar as condições dignas para que os jovens se mantenham com qualidade de vida no meio rural. Se tiver renda, cultura, comunicação e esporte, o meio rural passa a ser atrativo para a juventude”, destacou Paulo Pedro. A mesa redonda “Juventudes e convivência com o semiárido” contou com a mediação do jornalista Luis Osete Carvalho.
Estratégias de enfrentamento à cultura do estupro e ao feminicídio
A última mesa deste terceiro dia de programação da II Semana de Humanidades foi intitulada “Mulher e política: estratégias de enfrentamento à cultura do estupro e ao feminicídio” e contou com a participação de Sophia Branco, do Fórum de Mulheres de Pernambuco, Gésia Cristina, do Fórum de Mulheres do Araripe, e Ingrid Chuchardt, do Centro Nordestino de Medicina Popular (CNMP). A mediação ficou por conta de Vera Guedes, do CNMP.
A mesa redonda “Mulher e política: estratégias de enfrentamento à cultura do estupro e ao feminicídio” teve ampla participação do público presente
Em sua explanação, Gésia destacou a atuação do Fórum de Mulheres do Araripe, movimento feminista antirracista e anticapitalista que abrange 11 municípios da região e compõe o Fórum de Mulheres de Pernambuco. A desconstrução do sistema patriarcal e da desigualdade de gênero, entendida como um problema de saúde pública, foi exposta por Gésia como desafios à juventude na transformação da sociedade. “Tivemos grandes conquistas, mas estamos em um momento muito delicado de retrocessos. É preciso resistir e construir novas formas de combate à violência e de fortalecimento das mulheres”, afirmou ela.
Representante do Centro Nordestino de Medicina Popular, a alemã Ingrid Chuchardt apresentou em sua exposição dados da violência contra as mulheres na Alemanha, o que, segundo ela, comprova a ameaça global desse fenômeno. A partir de uma pesquisa com 10 mil alemãs, Ingrid mostrou dados alarmantes, como o fato de 40% das mulheres terem sofrido algum tipo de agressão física e/ou sexual, apenas um terço daquelas que se machucaram procuraram ajuda médica especializada e quase a metade (47%) das mulheres que sofreram violência sexual não contou a ninguém.
Os dados da Alemanha convergiram com as notícias selecionadas e lidas por Sophia Branco, do Fórum de Mulheres de Pernambuco, com situações de violência contra as mulheres ocorridas nos últimos dois meses em diversas cidades do Brasil, inclusive na região do Araripe. “Eu trouxe essas notícias para que vocês vejam que por trás de cada número tem uma história de vida e isso é o que torna a situação tão dramática”, destacou ela, lembrando aspectos que estão em jogo quando as mulheres são violentadas, como “a ideia de que as mulheres são seres humanos de segunda categoria e de que são objetos de posse dos homens”, enfatizou.
No momento de abertura para as contribuições do público à mesa redonda, foram partilhadas diversas experiências de violência presenciadas ou sofridas pelas mulheres presentes. A necessidade de levar ao ambiente escolar a discussão e a desconstrução de padrões opressivos da sociedade foi ressaltada como um desafio inadiável na formação dos cidadãos do futuro.
Para impulsionar ainda mais a discussão da mesa redonda, a curadoria da Semana de Humanidades trouxe o espetáculo teatral Esfinge, do Grupo Medusa, de Bodocó-PE. A partir de pequenas esquetes, o espetáculo fala de diversas temáticas do universo feminino. De acordo com a atriz Malu Siqueira, a temática trazida na obra artística e a discussão da mesa redonda foram complementares. “Dentro do espetáculo a gente utilizou muitas sombras e elementos surrealistas para que chegasse visualmente o que elas terminaram falando na mesa redonda”, afirmou ela.
Gratuita e aberta ao público, a programação da II Semana de Humanidades do campus Ouricuri encerra nesta sexta-feira (29). Confira tudo o que ainda vai acontecer clicando aqui.